Do outro lado da cama estava uma bandeja com comida, só ai me dei conta que já não me lembrava da última refeição que tinha feito, comi com gosto sabia-me bem repor energia já para não dizer que a comida estava deliciosa.
Depois de comer senti-me ainda um pouco cansada e decido deitar-me mais perto da lareira num sofá que ali se encontrava e adormeci quase de imediato.
Quando voltei a acordar já não estava sozinha, ele estava sentado perto do fogo, a brincar com as brasas que estavam na beira da lareira, fiquei muito quieta a olhar para ele, queria ver se percebia quem era e o que queria de mim, a claridade das chamas formavam estranhas manchas no seu rosto, umas vezes mostrando-o mais e outras vezes escondendo-o de novo nas sombras, formando uma nuvem de mistério sobre a sua face marcada.
Lentamente foi-se apercebendo de que já tinha acordado e que estava a observar, sem olhar para mim, e num tom de voz grave perguntou se me sentia melhor.
Não sabia se respondia ou não, não o conhecia nem sabia o que queria de mim, mas como estava a ser tão hospitaleiro e até á data não tinha mostrado qualquer outro interesse em mim, decidi responder.
-Sim sinto-me melhor.
Após a minha resposta ficou um silencio mordaz, ele continuou a brincar com as brasas e eu fiquei a admirá-lo e atentar imaginar como seria o seu rosto, já que só o tinha visto de perfil, queria saber como tinha feito aquela cicatriz horrenda, e por mais estranho que parecesse sentia-me cada vez mais confortável ao lado dele naquele espaço. Resolvi então que estava na hora de saber finalmente como tinha ido ali parar.
- Peço desculpa, mas eu estou um pouco baralhada como deve de calcular, na minha cabeça só passam flashes muito turvos, e não consigo coordená-los para perceber como vim aqui parar. Por favor será possível que me dissesse o que aconteceu?
Durante uns breves minutos não disse nada, continuou a sua brincadeira, como se eu não tivesse dito nada, esperei pacientemente até que se decidisse finalmente responder á minha questão.
- O que lhe aconteceu não sei, a única coisa que sei é que a encontrei á já alguns dias atrás, desfalecida na mata, perto da minha casa, já devia dês estar lá á pelo menos um dia, pois quando a encontrei estava tão gelada que nunca pensei que sobrevivesse.
- Desmaiada? Mas como é que eu vim ter a este sitio, eu não me lembro de nada, apenas me recordo de abrir os olhos me sentir tonta, de o ver a si e depois fugir.
- Pois a atitude menos sensata que teve desde de que a trouxe para aqui, mas é relevante já que nem sabia onde estava, o que lhe tinha acontecido, e ainda por cima depara-se com uma aberração!
-Desculpe não foi a minha intenção, mas entenda a minha posição, estou muito confusa!!!
- Não se preocupe eu entendo-a perfeitamente, sou um monstro, mas antes de o ser também fui gente como você.
E ao dizer isto pousou a vara com que fogueava o fogo e levantou-se.
Era um homem de porte médio mas bem constituído, vestido com roupas largas e escuras, como que para além de tentar ocultar a sua face, também estivesse a esconder a alma através do negro, a cabeça permanecia baixa, e os cabelos negros não deixavam vislumbrar nem mais um milímetro do seu rosto para além do que já tinha visto, e num impulso e sem saber porquê, levantei-me também, e ficamos frente a frente.
Ele parou como que congelado, estávamos tão perto que conseguia sentir a sua respiração a aumentar de ritmo, não conseguia olhar para mim, parecia que estava embaraçado com proximidade e não sabia como reagir a ela. Eu deixei de ter medo daquela figura sombria, e no lugar de um sentimento de medo e desconfiança, veio um misto de compaixão e gratidão, e então quis ver com mais clareza o rosto do homem que me salvou.
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