O seu manto longo e vermelho como o sangue, rastejava pelo chão enquanto caminhava descalça pelos corredores do castelo.
Pobre princesa prestes a perder o seu reino.
A cabeça estava desprovida de pensamentos, parecia que apenas uma maré turbulenta assolava a, deixando que as lágrimas lavassem o seu rosto ruborizado pelo frio da noite.
Chegou finalmente a uma janela aberta, apertou as mãos de encontro ao para peito e gritou. Parecia um uivo desesperado no breu da noite como uma loba solitária.
Despiu o roupão e ficou a olhar o céu estrelado, nua, pois mais nua se sentia na alma, comparado com isso que seria o nu do seu corpo frágil…
Num desespero olha para a lua, as lágrimas continuam a rolar sem dó, e pergunta com a voz rouca e já frágil pela agonia do dia, se a dor que sente passará, se o ar que lhe falta voltará, se alegria dos seus olhos surgirá de novo um dia.
Sentia-se abandonada e só, numa casa onde apenas habitavam velhos espíritos e memórias, onde as portas com o passar do tempo rangiam e as janelas teimavam em não abrir. As forças faltavam-lhe e com o passar do tempo também a vontade de lutar.
Que seria dela, que seria do seu corpo quente outrora, e frio no presente.
A resposta não surgiu. Calou o seu grito.
Como vinda do nada, uma brisa suave e quente correu-lhe pela pele, sentiu calor de novo e sentiu-se aconchegada.
Afinal ainda á calor lá fora.
Fechou os olhos e deixou-se envolver por aquela brisa. Passava por cada centímetro de si, e saia suavemente pelas madeixas do seu cabelo.
Um perfume adocicado a flores invadiu o ar, inspirou, e quase via sob as pálpebras as cores das flores que libertavam o doce odor, rosas, lírios, amores-perfeitos, um jardim, afinal á vida.
Sem que se apercebesse, um sorriso surgiu, e as imagens de coisas boas passaram pela sua memória. Memórias de momentos quentes e doces que havia esquecido. Memórias de alegrias que estavam guardadas no mais seguro dos cofres, dentro de si.
Abriu os olhos, e olhou a lua cheia á sua frente, brilhava com todo o seu esplendor e grandiosidade. Era sábia e iluminada, detentora de um brilho cativante, senhora de si e do sua prata flutuante no céu, que por mais escuro que fosse não a impedia de brilhar, era lutadora, a lua, e era só uma.
“ Se tu podes brilhar assim
Eu também posso
Se tu podes lutar com a tua armadura de prata
Eu também posso
Não te importa se estás só ai no céu
És tu e lutas por não seres mais ninguém
Eu também posso lutar
O manto que vestirei amanhã será prata
E brilharei aos olho dos meus inimigos
Que ficaram cegos como descrentes de mim que o são
A minha verdade e o meu eu permaneceram
Como aquela que te viu
Que te sentiu
Que te admirou
E como tu lutou
E saiu na noite escura
Para voltar a brilhar”
Voltou para os seus aposentos e deixou ali caído o seu manto. Que ficou no chão, tal como sangue perdido quando se trava uma batalha.
A batalha foi ganha, a marca de sangue fica no chão como símbolo. E com o tempo torna-se uma lenda e uma inspiração, para quem contínua a travar batalhas.
1 comentário:
Adorei minha linda, revi-me muito neste texto. Parabéns pelo blog :)
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