quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A viagem parte II

ntei em vão fazer uma chamada, para cúmulo não havia rede. Estava a começar a entrar em pânico, anoitecia e nada de aparecer um carro sequer, o quadro em que me encontrava não estava de todo a meu favor.


Sem solução prática á vista, não tive outro remédio se não o de ficar ali plantada no meio de nenhures na esperança de que alguém aparece-se por ali. Tranquei as portas, recostei o banco do carro para trás e tentei relaxar, coisa que estava a ser difícil dadas as circunstancias…


O tempo foi passando, e sem me aperceber adormeci, devia de ser do cansaço da viagem, pois nem me dei conta do quanto os meus olhos estavam pesados.


Não sei por quanto tempo dormi, sei que quando acordei tinha um senhor a caminhar na direcção do carro com uma lanterna que apontava na minha direcção. Meia encandeada, só deu mesmo para perceber á distancia que estava do carro que era um homem, certifiquei-me de que tinha fechado bem as portas do carro e esperei que se aproxima-se mais. O meu coração palpitava, não sabia onde estava, o carro não andava e o telefone estava morto, aquela figura desconhecida fazia-me pensar em mil e uma desgraças que poderiam me acontecer sem ninguém saber, e quando dessem por minha falta já seria tarde de mais.


Parou por um instante a observar a viatura, movia a lanterna de um lado para o outro como se a estivesse a analisar, depois focou de novo para mim.


Estava sem gota de sangue e sem saber como reagir, afinal de contas não tinha escapatória a única solução era ver o que queria de mim, se vinha para me fazer mal ou ajudar.


De repente acelerou passo em minha direcção, e ai é que entrei em pânico, mas tentei com muito esforço manter a calma, e deixei que se aproxima-se se me mexer um milímetro.


Finalmente quando chegou perto do vidro do lado do condutor pude ver a cara da minha salvação da minha desgraça.


Felizmente era o simpático senhor da estação de serviço, respirei de alivio e abri o vidro.


- então menina que faz aqui parada a estas horas da noite, ainda por cima sozinha? Não me diga que o seu carro avariou?


Olhei para ele e não pude evitar sorrir, a voz denotava a mesma simpatia de há horas atrás e não me pareceu nada ameaçador.


- Não me diga nada, o meu bolinhas deixou-me ficar mal desta vês, estou aqui há horas sem telefone nem nada.


- Pois aqui nesta zona não há rede. Hora vamos ver o que podemos fazer por si. Espere só um pouco que estou com a minha mulher ali no carro e vou chama-la, ela faz-lhe companhia enquanto eu vejo o que este menino tem pode ser?


Quando falou na mulher é que reparei que mais á frente estava um carro parado. Como estava encadeada com o foco de luz não me apercebi que havia um carro.


Foi até á viatura, e quando voltou trouxe a mulher, uma senhora de estatura baixa, magra mas com um ar tão amistoso como o meu salvador, levou-me até ao carro deles e ofereceu-me alguma comida que trazia consigo. Conversámos enquanto ele abria o capo do carro e analisava o seu estado. Falou-me de si do marido e de um sobrinho que vinha da cidade dai a um dia para passar o fim de semana cm eles, era como um filho que não tinham nenhum. Viviam numa vila perto do local onde me tinham encontrado, iam para casa quando repararam no carro parado e resolveram ver se era alguém que precisava de ajuda. Não era hábito fazerem tal coisa nos dias de hoje com tanta violência, mas como o marido tinha falado numa menina que estava a viajar sozinha e achou estranho esse facto, teve medo que talvez fosse você, e por isso pararam.


-E foi em boa hora não menina? Se não morria enregelado com o frio que se faz sentir esta noite.


- Muito boa hora mesmo, muito obrigada. Não sei onde estava com a cabeça quando me meti nesta aventura.


- Você é jovem, tem mais é que se aventurar, mas sempre com cautela, e veja lá se para a próxima com um carro mais novo para não ficar apeada.


E nisto soltou uma gargalhada e afagou-me as mãos em gesto de cumplicidade.


Enquanto continuávamos a conversar, o senhor António, era assim que se chamava, voltou.


Entrou dentro do carro limpo as mãos com um pano que tinha no carro e olhou para mim.


- Menina o seu carro não vai poder sair daqui hoje, vai ter de ir para uma oficina e só pode ser amanhã.


- A sério? Então como vou fazer meu Deus?


Depois de algum silencio a D:. Fernanda achou uma solução.


- Ora só não existe cura para a morte, venha connosco, o meu sobrinho só chega amanhã ou depois, por isso pode pernoitar no quarto dele. Que lhe parece?


- não quero incomodar, mas também não estou a ver outra solução. Como é que posso agradecer esta ajuda, se não fossem vocês a aparecer agora estava perdida de todo.


- Ora essa não custa nada ajudar, vaia lá buscar as suas coisas e venha connosco. Comemos uma refeição decente e depois dormimos o sono dos justos.


Fui buscar a mala com a pouca roupa que tinha, tranquei o carro e voltei para junto deles.


Não acreditava no que me estava a acontecer, foi milagre aquele casal passar por ali. Não sei se era acertado aceitar a cama que me ofereciam, mas não tinha outra saída, pareciam gente humilde e não quis desprezar a ajuda que me estavam a dar. A viagem demorou mais ou menos meia hora. A aldeia era pequena, com casas térreas daquelas típicas de campo, infelizmente naquele breu era a única coisa que conseguia ver. Paramos em frente á terceira casa, e entrámos.


Fiquei maravilhada. Uma casa simples mas muito aconchegante, a decoração era básica mas muito cuidada, rústica típica do interior. A sala tinha uma lareira ao fundo onde haviam varias cadeiras á volta, parecia o local de convívio familiar em noites de inverno, ao lado era a cozinha bem ao estilo campestre com direito a fogão a lenha e pia de pedra. Depois havia uma porta que dava para um corredor com várias portas. A dona Fernanda fez questão de me mostrar o resto da casa. As duas primeiras portas da esquerda eram uma casa de banho ampla e um quarto com porta de acesso directo a ela, era o quarto do casal, onde existiam fotos de casamento e de alguns momentos das suas vidas com pessoas que desconhecia, apenas salientou uma foto do sobrinho com dez anos.


Tinha um ar reguila, cheio de sardas e cabelo desgrenhado, apenas sobressaíam os olhos grande e verde que sob os caracóis rebeldes quase lhe davam um ar de anjo mas que o sorriso maroto fazia desacreditar. Não sei porque mas fez me sorrir.


Depois do lado direito a despensa, logo a seguir a casa de banho das visitas e o quarto onde ia ficar. Era um quarto simples com uma cama de casal, mesa de cabeceira com um pequeno candeeiro e um guarda fatos mesmo em frente, do outro lado havia uma janela alta que dava acesso a uma pequena varanda térrea e tinha uma espreguiçadeira com uma mesa de apoio. Olhei para o céu naquele momento, estava frio e o ar estava tão limpo que conseguia ver todas as estrelas do céu, e, pensei que em noites de verão devia de ser muito agradável ficar ali no olhar aquele céu deslumbrante e perder-se no tempo.


Depois do reconhecimento, dirigimo-nos para a cozinha, onde foi preparada uma refeição leve, baseada em leite, pão caseiro e manteiga, seguido de um delicioso arroz doce.


Conversamos mais um bocado, o Sr. António disse-me que logo pela manhã ia falar com o mecânico para irem ver o carro, e só depois saberiam quando estaria pronto.


- durma descansada esta noite, o pior já passou menina. Amanhã tudo se resolverá.


Agradeci a comida e amabilidade, e retirei-me.


Entrei no quarto e olhei mais uma vez em volta, era mesmo uma decoração simples, numa das paredes apenas havia um retrato do peque diabrete igual ao do quarto da D. Fernanda mas numa escala maior.


- Aqui estás tu pequeno malandro.


Murmurei para mim mesma, e ao mesmo tempo perguntei-me a mim mesma porque cada vez que olhava para ele me dava vontade de sorrir. Devia de ser dos caracóis e das sardas.


Preparei-me para dormir o sono dos justos, deixei as portas da janela aberta, quis continuar a contemplar aquela noite até o sono vir, coisa que aconteceu logo de seguida.


Ia a meio do meu descanso quando fui acordada pelo barulho de uma porta a abrir,. Quando abri os olhos não quis acreditar no que via. No lado de fora da janela estava a sombra de uma pessoa a meter qualquer coisa na ranhura, fosse lá o que fosse surtiu efeito porque a fechadura rodou e a janela abriu-se. Fiquei muito quieta na cama com os olhos arregalados a ver o assaltante a entrar no quarto surrateiro. Mas, para mal dos seu pecados assim que entrou tropeçou na mala que eu tinha deixado no chão e caiu em cima da cama. Dei um grito que deve de se ter ouvido na aldeia mais próxima que seria de uns cem quilómetros, o intruso também gritou ao ver que não estava a passar despercebido como era a sua intenção. Antes que acendesse a luz do candeeiro o Sr. António e a mulher entraram de rompante no quarto e acenderam a luz.


Depararam-se comigo encostada á cabeceira da cama agarrada ao cobertor e um rapaz ao pé da cama com a mão na cabeça a olhar para mim com uns grandes olhos verdes.


- Á o que aconteceu? Disse a dona Fernanda.


Então caiu a ficha, aquele rapaz que não parava de coçar a cabeça era o sobrinho dela, eram os mesmo olhos e os mesmos caracóis da foto, só as sardas tinham desaparecido.


- Então tia arranjou uma substituta foi?


- Mas ó meu filho só eras para chegar amanhã!


- Pois era mas decidi vir hoje depois do trabalho, e como cheguei tarde nãos queria acordar. Mas aqui a sirene fez o favor de me anunciar.


Aquele comentário era despropositado, e não foi do meu agrado.


- O meu nome é Graça, e se não tivesse entrado sem avisar não teria me assustado.


Devo de ter feito beicinho, porque ele ficou a olhar para mim e deu um sorriso no canto da boca.


- desculpe não a quis ofender, mas é costume eu entrar pela janela quando chego tarde. Filipe, o meu nome é Filipe. Agora tia já que estamos todos acordados, explique-me o que está esta rapariga aqui a fazer no meu quarto.


- á meu filho isso é uma longa historia e estamos todos muito cansados inclusive tu. Não te importas de dormir só hoje na sala a lareira ficou acesa.


Olhou para mim com um ar um pouco contrariado mas depois anuiu.


- Está bem, mas amanhã quero saber o que se passa está bem.


- Tudo o que quiseres meu amor, agora vou te buscar cobertores.


Saíram do quarto e dirigiram-se para a sala, depois ouvi as portas dos quartos a fecharem-se. Ainda fiquei um pouco desperta mas acabei por adormecer até de manhã.