quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Amantes




O meu sorriso ó minha alma é só teu,
Só teu é o meu desejo,
Só teu é o meu corpo.
Abraça-me e deixa-me sentir o teu peito junto ao meu,
Livre de pudor e vergonha,
Quente e forte
Quero sentir a tua respiração bem perto de mim,
E tocar a o teu rosto só mais uma vez
Envolve-me beija-me, dá-me tudo, e leva tudo
Deixa apenas ficar o momento
Para que as nossas almas o possam reviver vezes sem conta
E alimentarem-se até se sentirem saciadas.
Se eu pudesse mantinha-te sempre dentro de mim
Aconchegado num ninho de emoções
Carnais, espirituais e possessivas
Sem ferir carne ou espírito
Somente deixando as marcas da paixão
Como que tatuadas suavemente sobre a pele
Ardente de desejo
Desejo que sinto e não consigo esconder
Ó minha alma vem e leva-me
Para além da lua e do sol
Deixe-mos apenas para trás
O pó de estrelas que brilham por nós
E brindam ao reencontro de dois amantes.



Por:
Angélica Gomes
(dedicada aos amantes)

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Finalmente livre.






Hoje fui passear á beira-mar. Molhei os pés na rebentação das ondas, e caminhei sem destino e sem contar o tempo. Caminhei de cabeça vazia, desprovida de pensamentos ou questões, de olhar distante e cristalino apenas deixando para trás os meus passos na areia. Ao acordar daquele transe dei por mim num mar imenso de memórias perdidas, coisas que não quero me lembrar, que quero esquecer. Entrei dentro das águas frias mas calmas, a cada passo que dava para dentro daquele negrume, profundo e gélido, tinha a certeza do que queria fazer. Finalmente mergulhei, como que caminha para uma morte suave e indolor, suspendendo a respiração como quem quer suspender a dor, entrei nas águas que me iriam purificar. Senti cada osso do meu corpo gelar, mas estranhamente não senti dor ou frio nem vontade de respirar, deixei que o peso do negro que me envolvia cada vês mais me levasse para as suas entranhas, obscuras e intensas.
Desço cada vês mais fundo, e finalmente os meu pés tocam o fundo, sinto entre os dedos a areia fina, abro os olhos e olho para cima, a única coisa que vejo é a luz da lua, cheia na sua imensidão, tudo á volta é escuro e sombrio, nada é belo nada reluz ou mexe sob aquele luar, nem mesmo eu, o meu corpo fica inerte e não se move, nem tem vontade de se mover, só quer ficar ali, escondido do mundo, com os seus medos, segredos e agonias. Penso em gritar e soltar ali tudo o que de mão me aflige, mas a minha boca nem se move, já nem tenho ar nos pulmões, nem sinto falta dele, respirar para quê? Penso.
Não sei quanto tempo fiquei ali, imóvel e estática, a única coisa que sei é que a cada minuto que passava sentia me mais leve, cada pensamento era levado pela água e limpava-me por dentro. Ate que finalmente deixei de sentir medo, dor ou outro qualquer sentimento menos feliz, as águas finalmente aclararam, e abriram para eu poder passar e sair do seu fundo azul.
Quando cheguei á superfície, não senti nem ar nem brisa, tudo estava estranhamente calmo e sereno.
Levitei-me sobre as águas, olhei para baixo, e vi. O meu corpo, no fundo do mar, a sondar a lua, vidrados e sem vida, assim como tudo o que me acompanhava.
Agora sim era livre.

Por: Angélica Gomes.





segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Paixões


Uma vez leram-me futuro, disseram-me que ia ter um amor platónico, tive vários.
Sou uma pessoa de paixões e amores, alguns vagos outros mais intensos, mas não passam todos de paixonetas, de emoções momentâneas, que aquecem o coração por breves momentos. Mas é tão bom ter estas paixões passageiras, é como em cada uma delas estivéssemos a experimentar um bombom. Imaginem uma caixa de bombons, perfumada, onde cada um deles vem embrulhado num papelinho delicado, que aos poucos se vai abrindo, deixando passar as emoções e expectativas, perfumando o ar com o odor a chocolate, tentado adivinhar o que vai lá dentro. Dá-se a primeira dentada, delicada e suave, não queremos ter surpresas desagradáveis, e saboreia-se para não ter-mos dúvidas de que realmente aquele é um recheio que nos agrada. Se nos agradar o resto do bombom acaba por se derreter lentamente na nossa boca, apreciando cada momento, deixando que o nosso paladar nos diga finalmente quando podemos provar o bombom seguinte…

O sabor do sal




Sai do trabalho, e não me apetecia ir para casa cedo, como a tarde estava agradável e sentia-se aquela brisa morna primaveril, decidi ir até á praia dar um passeio á beira-mar. Escolhi uma que á partida saberia que estaria pouca gente, e assim sentir-me-ia mais á vontade, mas a verdade é que estava praticamente deserta, ainda melhor.
Comecei a dar uma caminhada perto da água, adorava sentir os grãos de areia a trespassarem-me os dedos dos pés, fazem-me cócegas de uma maneira muito agradável e suave. Comecei a sentir calor, e decido sentar-me na borda da água e deixar que as ondas me tocassem ao de leve, para me refrescar um pouco, de repente dei por mim a lembrar-me da minha infância, toda a minha vida conheci aquela praia, e sempre teve algo de especial para mim. A casa dos meus pais era perto dali, e durante o verão, não havia dia nenhum que eu não passasse por ali para dar um mergulho, naquelas águas azuis e límpidas. Passava as férias de verão com uns primos que vinham do norte, ficávamos tanto tempo ao sol que a nossa pele ficava escura e os cabelos completamente loiros, parecíamos surfistas. Havia também um miúdo que de vez em quando vinha ter connosco para jogar volei ou raquetes, acho que o nome dele era Pedro, sim Pedro era esse o seu nome. Eu sempre lhe achei imensa piada, porque era capaz de ficar horas a olhar para mim, mas nunca me dirigia palavra directamente, eu apenas sorria-lhe e ficava deliciada ao reparar que corava cada vês que o apanhava em flagrante. Lembro-me que era magro e alto, acho que tinha olhos verdes, mas nunca tive a certeza porque a maior parte do tempo estavam escondidos por detrás dos óculos que usava, tinha sempre muitas borbulhas típicas da puberdade, e que lhe davam ainda mais um ar de totó.
Que seria feito daquele rapaz, por onde andaria?
Olhei em volta para ver se estaria mais alguém por ali, pois apetecia-me entrar naquelas águas e banhar-me um pouco. Depois de me certificar que não haveria ninguém por ali, tirei a roupa e mergulhei apenas de langerie. E dei graças a deus de naquele dia ter vestido boxers.
Soube-me bem mergulhar naquele imenso azul profundo, era como se estivesse a lavar o meu corpo e a minha alma das impurezas daquele dia.
Quando voltei á superfície, e olhei para a direcção em que tinha deixado as minhas coisas, reparei num vulto de pé a olhar para mim. Fiquei assustada, pois estava numa praia deserta sem roupa e parecia que um tarado estava só ás espera que eu saísse da água para me atacar. O que é eu ia fazer agora, se grita-se ninguém me iria ouviria, se saísse da água corria o risco de ser atacada e se fica-se dentro de água corria o risco de ter um ataque de hipotermia. E foi então que eu ouvi alguém a chamar pelo meu nome:
-Laura, és tu?
Aquela voz era-me familiar, mas não conseguia me lembrar quem era.
-Sim sou eu – respondi quem é o senhor?
-Não te assustes, sou eu o Pedro, lembras-te de mim?
O Pedro, Não era possível, como poderia eu estar a pensar nele e aparecer-me assim do nada.
-Sim sabe quem és, será que te podias virar de costas para eu poder sair da água? É que eu não estou muito apresentável, se é que me entendes?!
-Ok eu viro-me, podes sair.
Hesitei um pouco mas tinha que sair dali, já estava a ficar gelada, sai calmamente e vesti-me á pressa. Enquanto me vestia não tirava os olhos daquele homem que já não via á alguns anos, e que não estava a reconhecer minimamente. Lembrava-me de um Pedro magro e franzino, aquele que estava diante de mim era mais alto e bem constituído.
-Já estou vestida, podes te voltar.
Quando se virou, reconheci de imediato aquele olhar tímido, embora agora não usasse mais óculos, mas aqueles olhos verdes eram inconfundíveis.
-Meu deus, estás tão diferente!!! Se me cruzasse contigo na rua não te reconheceria, como estás?
-Eu estou muito bem, estava a passear pela praia quando te vi chegar, e decidi dizer olá.
-Fizeste bem, sabes estava a pensar em ti.
Ao dizer isto reparei que tinha corado, tal qual como quando éramos miúdos, e isso fez-me sorrir.
-Não é preciso corar – disse tentando encontrar o seu rosto, que teimava em esconder.
-Pois como quando éramos garotos não é? Sabes tu sempre me deixaste inconfortável.
-Eu sei, eu sempre soube que tinhas uma paixoneta por mim.
-Paixoneta?! Sempre foi mas do que uma paixoneta de crianças. Eu sempre fui doido por ti Laura.
Desta vez quem corou fui eu, não estava á espera de ouvir uma declaração daquelas, ainda por cima com a intensidade com que me disse aquilo, o seu tom de voz era grave e ao mesmo tempo magoado, parecia que tinha guardado uma angústia enorme durante todos aqueles anos.
-Estou sem palavras Pedro, primeiro que não estava á espera de te ver aqui, segundo…
Ficou um silêncio constrangedor, eu nem conseguia dizer palavra, apenas o meu coração começou a bater mais forte, mas não estava a perceber porquê. Ele começou a aproximar-se de mim e a olhar-me fixamente, a minha respiração tornou-se cada vês mais ofegante, estava a deixar-me nervosa.
-Por favor Pedro não faças isso, peço-te.
-Não faço o quê?
Agora conseguia sentir a respiração dele junto da minha testa, quente e húmida.
-Sabes á quanto tempo eu desejei estar assim perto de ti ? Sabes quantos anos andei a sonhar em estar perto de ti e sentir o teu cheiro? Tu tens o cheiro do mar, a tua pele é salgada, deixa-me provar desse sal que me provoca tanta sede.
E beijou-me com intensidade, não consegui reagir, o meu corpo não deixou, decidi deixar-me levar, ao sabor das ondas daquele beijo.
O som das ondas do mar embalou-nos naquele borbulhar de beijos, envolvendo-nos na espuma da paixão, um calor e desejo fortes tomaram conta dos nossos corpos, e entrámos nas águas do prazer, sem medo, apenas com ansiedade de nos molhar-mos em prazer, profundo como o oceano.
Entrámos para dentro de água como viemos ao mundo, nus de roupa e nus de vergonha, sabia-me bem sentir os meus seios a tocar no corpo dele, o seu abraço protegia-me fazia-me sentir como se não houvesse mais nada no mundo, apenas nós o mar e aquele momento. Senti-lo dentro de mim fez-me gemer de prazer, prazer como há muito não sentia, um frio na barriga fazia o meu desejo de ser possuída crescer ainda mais, os movimentos da nossa paixão misturavam-se com a ondulação das águas, formando uma alma só, que culminou num grito uníssono de prazer.





Por:
Angélica Gomes