terça-feira, 2 de setembro de 2008

Finalmente livre.






Hoje fui passear á beira-mar. Molhei os pés na rebentação das ondas, e caminhei sem destino e sem contar o tempo. Caminhei de cabeça vazia, desprovida de pensamentos ou questões, de olhar distante e cristalino apenas deixando para trás os meus passos na areia. Ao acordar daquele transe dei por mim num mar imenso de memórias perdidas, coisas que não quero me lembrar, que quero esquecer. Entrei dentro das águas frias mas calmas, a cada passo que dava para dentro daquele negrume, profundo e gélido, tinha a certeza do que queria fazer. Finalmente mergulhei, como que caminha para uma morte suave e indolor, suspendendo a respiração como quem quer suspender a dor, entrei nas águas que me iriam purificar. Senti cada osso do meu corpo gelar, mas estranhamente não senti dor ou frio nem vontade de respirar, deixei que o peso do negro que me envolvia cada vês mais me levasse para as suas entranhas, obscuras e intensas.
Desço cada vês mais fundo, e finalmente os meu pés tocam o fundo, sinto entre os dedos a areia fina, abro os olhos e olho para cima, a única coisa que vejo é a luz da lua, cheia na sua imensidão, tudo á volta é escuro e sombrio, nada é belo nada reluz ou mexe sob aquele luar, nem mesmo eu, o meu corpo fica inerte e não se move, nem tem vontade de se mover, só quer ficar ali, escondido do mundo, com os seus medos, segredos e agonias. Penso em gritar e soltar ali tudo o que de mão me aflige, mas a minha boca nem se move, já nem tenho ar nos pulmões, nem sinto falta dele, respirar para quê? Penso.
Não sei quanto tempo fiquei ali, imóvel e estática, a única coisa que sei é que a cada minuto que passava sentia me mais leve, cada pensamento era levado pela água e limpava-me por dentro. Ate que finalmente deixei de sentir medo, dor ou outro qualquer sentimento menos feliz, as águas finalmente aclararam, e abriram para eu poder passar e sair do seu fundo azul.
Quando cheguei á superfície, não senti nem ar nem brisa, tudo estava estranhamente calmo e sereno.
Levitei-me sobre as águas, olhei para baixo, e vi. O meu corpo, no fundo do mar, a sondar a lua, vidrados e sem vida, assim como tudo o que me acompanhava.
Agora sim era livre.

Por: Angélica Gomes.





Sem comentários: