segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O sabor do sal




Sai do trabalho, e não me apetecia ir para casa cedo, como a tarde estava agradável e sentia-se aquela brisa morna primaveril, decidi ir até á praia dar um passeio á beira-mar. Escolhi uma que á partida saberia que estaria pouca gente, e assim sentir-me-ia mais á vontade, mas a verdade é que estava praticamente deserta, ainda melhor.
Comecei a dar uma caminhada perto da água, adorava sentir os grãos de areia a trespassarem-me os dedos dos pés, fazem-me cócegas de uma maneira muito agradável e suave. Comecei a sentir calor, e decido sentar-me na borda da água e deixar que as ondas me tocassem ao de leve, para me refrescar um pouco, de repente dei por mim a lembrar-me da minha infância, toda a minha vida conheci aquela praia, e sempre teve algo de especial para mim. A casa dos meus pais era perto dali, e durante o verão, não havia dia nenhum que eu não passasse por ali para dar um mergulho, naquelas águas azuis e límpidas. Passava as férias de verão com uns primos que vinham do norte, ficávamos tanto tempo ao sol que a nossa pele ficava escura e os cabelos completamente loiros, parecíamos surfistas. Havia também um miúdo que de vez em quando vinha ter connosco para jogar volei ou raquetes, acho que o nome dele era Pedro, sim Pedro era esse o seu nome. Eu sempre lhe achei imensa piada, porque era capaz de ficar horas a olhar para mim, mas nunca me dirigia palavra directamente, eu apenas sorria-lhe e ficava deliciada ao reparar que corava cada vês que o apanhava em flagrante. Lembro-me que era magro e alto, acho que tinha olhos verdes, mas nunca tive a certeza porque a maior parte do tempo estavam escondidos por detrás dos óculos que usava, tinha sempre muitas borbulhas típicas da puberdade, e que lhe davam ainda mais um ar de totó.
Que seria feito daquele rapaz, por onde andaria?
Olhei em volta para ver se estaria mais alguém por ali, pois apetecia-me entrar naquelas águas e banhar-me um pouco. Depois de me certificar que não haveria ninguém por ali, tirei a roupa e mergulhei apenas de langerie. E dei graças a deus de naquele dia ter vestido boxers.
Soube-me bem mergulhar naquele imenso azul profundo, era como se estivesse a lavar o meu corpo e a minha alma das impurezas daquele dia.
Quando voltei á superfície, e olhei para a direcção em que tinha deixado as minhas coisas, reparei num vulto de pé a olhar para mim. Fiquei assustada, pois estava numa praia deserta sem roupa e parecia que um tarado estava só ás espera que eu saísse da água para me atacar. O que é eu ia fazer agora, se grita-se ninguém me iria ouviria, se saísse da água corria o risco de ser atacada e se fica-se dentro de água corria o risco de ter um ataque de hipotermia. E foi então que eu ouvi alguém a chamar pelo meu nome:
-Laura, és tu?
Aquela voz era-me familiar, mas não conseguia me lembrar quem era.
-Sim sou eu – respondi quem é o senhor?
-Não te assustes, sou eu o Pedro, lembras-te de mim?
O Pedro, Não era possível, como poderia eu estar a pensar nele e aparecer-me assim do nada.
-Sim sabe quem és, será que te podias virar de costas para eu poder sair da água? É que eu não estou muito apresentável, se é que me entendes?!
-Ok eu viro-me, podes sair.
Hesitei um pouco mas tinha que sair dali, já estava a ficar gelada, sai calmamente e vesti-me á pressa. Enquanto me vestia não tirava os olhos daquele homem que já não via á alguns anos, e que não estava a reconhecer minimamente. Lembrava-me de um Pedro magro e franzino, aquele que estava diante de mim era mais alto e bem constituído.
-Já estou vestida, podes te voltar.
Quando se virou, reconheci de imediato aquele olhar tímido, embora agora não usasse mais óculos, mas aqueles olhos verdes eram inconfundíveis.
-Meu deus, estás tão diferente!!! Se me cruzasse contigo na rua não te reconheceria, como estás?
-Eu estou muito bem, estava a passear pela praia quando te vi chegar, e decidi dizer olá.
-Fizeste bem, sabes estava a pensar em ti.
Ao dizer isto reparei que tinha corado, tal qual como quando éramos miúdos, e isso fez-me sorrir.
-Não é preciso corar – disse tentando encontrar o seu rosto, que teimava em esconder.
-Pois como quando éramos garotos não é? Sabes tu sempre me deixaste inconfortável.
-Eu sei, eu sempre soube que tinhas uma paixoneta por mim.
-Paixoneta?! Sempre foi mas do que uma paixoneta de crianças. Eu sempre fui doido por ti Laura.
Desta vez quem corou fui eu, não estava á espera de ouvir uma declaração daquelas, ainda por cima com a intensidade com que me disse aquilo, o seu tom de voz era grave e ao mesmo tempo magoado, parecia que tinha guardado uma angústia enorme durante todos aqueles anos.
-Estou sem palavras Pedro, primeiro que não estava á espera de te ver aqui, segundo…
Ficou um silêncio constrangedor, eu nem conseguia dizer palavra, apenas o meu coração começou a bater mais forte, mas não estava a perceber porquê. Ele começou a aproximar-se de mim e a olhar-me fixamente, a minha respiração tornou-se cada vês mais ofegante, estava a deixar-me nervosa.
-Por favor Pedro não faças isso, peço-te.
-Não faço o quê?
Agora conseguia sentir a respiração dele junto da minha testa, quente e húmida.
-Sabes á quanto tempo eu desejei estar assim perto de ti ? Sabes quantos anos andei a sonhar em estar perto de ti e sentir o teu cheiro? Tu tens o cheiro do mar, a tua pele é salgada, deixa-me provar desse sal que me provoca tanta sede.
E beijou-me com intensidade, não consegui reagir, o meu corpo não deixou, decidi deixar-me levar, ao sabor das ondas daquele beijo.
O som das ondas do mar embalou-nos naquele borbulhar de beijos, envolvendo-nos na espuma da paixão, um calor e desejo fortes tomaram conta dos nossos corpos, e entrámos nas águas do prazer, sem medo, apenas com ansiedade de nos molhar-mos em prazer, profundo como o oceano.
Entrámos para dentro de água como viemos ao mundo, nus de roupa e nus de vergonha, sabia-me bem sentir os meus seios a tocar no corpo dele, o seu abraço protegia-me fazia-me sentir como se não houvesse mais nada no mundo, apenas nós o mar e aquele momento. Senti-lo dentro de mim fez-me gemer de prazer, prazer como há muito não sentia, um frio na barriga fazia o meu desejo de ser possuída crescer ainda mais, os movimentos da nossa paixão misturavam-se com a ondulação das águas, formando uma alma só, que culminou num grito uníssono de prazer.





Por:
Angélica Gomes

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