quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Um anjo nas sombras parte II

Do outro lado da cama estava uma bandeja com comida, só ai me dei conta que já não me lembrava da última refeição que tinha feito, comi com gosto sabia-me bem repor energia já para não dizer que a comida estava deliciosa.
Depois de comer senti-me ainda um pouco cansada e decido deitar-me mais perto da lareira num sofá que ali se encontrava e adormeci quase de imediato.
Quando voltei a acordar já não estava sozinha, ele estava sentado perto do fogo, a brincar com as brasas que estavam na beira da lareira, fiquei muito quieta a olhar para ele, queria ver se percebia quem era e o que queria de mim, a claridade das chamas formavam estranhas manchas no seu rosto, umas vezes mostrando-o mais e outras vezes escondendo-o de novo nas sombras, formando uma nuvem de mistério sobre a sua face marcada.
Lentamente foi-se apercebendo de que já tinha acordado e que estava a observar, sem olhar para mim, e num tom de voz grave perguntou se me sentia melhor.
Não sabia se respondia ou não, não o conhecia nem sabia o que queria de mim, mas como estava a ser tão hospitaleiro e até á data não tinha mostrado qualquer outro interesse em mim, decidi responder.
-Sim sinto-me melhor.
Após a minha resposta ficou um silencio mordaz, ele continuou a brincar com as brasas e eu fiquei a admirá-lo e atentar imaginar como seria o seu rosto, já que só o tinha visto de perfil, queria saber como tinha feito aquela cicatriz horrenda, e por mais estranho que parecesse sentia-me cada vez mais confortável ao lado dele naquele espaço. Resolvi então que estava na hora de saber finalmente como tinha ido ali parar.
- Peço desculpa, mas eu estou um pouco baralhada como deve de calcular, na minha cabeça só passam flashes muito turvos, e não consigo coordená-los para perceber como vim aqui parar. Por favor será possível que me dissesse o que aconteceu?
Durante uns breves minutos não disse nada, continuou a sua brincadeira, como se eu não tivesse dito nada, esperei pacientemente até que se decidisse finalmente responder á minha questão.
- O que lhe aconteceu não sei, a única coisa que sei é que a encontrei á já alguns dias atrás, desfalecida na mata, perto da minha casa, já devia dês estar lá á pelo menos um dia, pois quando a encontrei estava tão gelada que nunca pensei que sobrevivesse.
- Desmaiada? Mas como é que eu vim ter a este sitio, eu não me lembro de nada, apenas me recordo de abrir os olhos me sentir tonta, de o ver a si e depois fugir.
- Pois a atitude menos sensata que teve desde de que a trouxe para aqui, mas é relevante já que nem sabia onde estava, o que lhe tinha acontecido, e ainda por cima depara-se com uma aberração!
-Desculpe não foi a minha intenção, mas entenda a minha posição, estou muito confusa!!!
- Não se preocupe eu entendo-a perfeitamente, sou um monstro, mas antes de o ser também fui gente como você.
E ao dizer isto pousou a vara com que fogueava o fogo e levantou-se.
Era um homem de porte médio mas bem constituído, vestido com roupas largas e escuras, como que para além de tentar ocultar a sua face, também estivesse a esconder a alma através do negro, a cabeça permanecia baixa, e os cabelos negros não deixavam vislumbrar nem mais um milímetro do seu rosto para além do que já tinha visto, e num impulso e sem saber porquê, levantei-me também, e ficamos frente a frente.
Ele parou como que congelado, estávamos tão perto que conseguia sentir a sua respiração a aumentar de ritmo, não conseguia olhar para mim, parecia que estava embaraçado com proximidade e não sabia como reagir a ela. Eu deixei de ter medo daquela figura sombria, e no lugar de um sentimento de medo e desconfiança, veio um misto de compaixão e gratidão, e então quis ver com mais clareza o rosto do homem que me salvou.

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