terça-feira, 29 de novembro de 2011

O manto.

O seu manto longo e vermelho como o sangue, rastejava pelo chão enquanto caminhava descalça pelos corredores do castelo.



Pobre princesa prestes a perder o seu reino.


A cabeça estava desprovida de pensamentos, parecia que apenas uma maré turbulenta assolava a, deixando que as lágrimas lavassem o seu rosto ruborizado pelo frio da noite.


Chegou finalmente a uma janela aberta, apertou as mãos de encontro ao para peito e gritou. Parecia um uivo desesperado no breu da noite como uma loba solitária.


Despiu o roupão e ficou a olhar o céu estrelado, nua, pois mais nua se sentia na alma, comparado com isso que seria o nu do seu corpo frágil…


Num desespero olha para a lua, as lágrimas continuam a rolar sem dó, e pergunta com a voz rouca e já frágil pela agonia do dia, se a dor que sente passará, se o ar que lhe falta voltará, se alegria dos seus olhos surgirá de novo um dia.


Sentia-se abandonada e só, numa casa onde apenas habitavam velhos espíritos e memórias, onde as portas com o passar do tempo rangiam e as janelas teimavam em não abrir. As forças faltavam-lhe e com o passar do tempo também a vontade de lutar.


Que seria dela, que seria do seu corpo quente outrora, e frio no presente.


A resposta não surgiu. Calou o seu grito.


Como vinda do nada, uma brisa suave e quente correu-lhe pela pele, sentiu calor de novo e sentiu-se aconchegada.


Afinal ainda á calor lá fora.


Fechou os olhos e deixou-se envolver por aquela brisa. Passava por cada centímetro de si, e saia suavemente pelas madeixas do seu cabelo.


Um perfume adocicado a flores invadiu o ar, inspirou, e quase via sob as pálpebras as cores das flores que libertavam o doce odor, rosas, lírios, amores-perfeitos, um jardim, afinal á vida.


Sem que se apercebesse, um sorriso surgiu, e as imagens de coisas boas passaram pela sua memória. Memórias de momentos quentes e doces que havia esquecido. Memórias de alegrias que estavam guardadas no mais seguro dos cofres, dentro de si.


Abriu os olhos, e olhou a lua cheia á sua frente, brilhava com todo o seu esplendor e grandiosidade. Era sábia e iluminada, detentora de um brilho cativante, senhora de si e do sua prata flutuante no céu, que por mais escuro que fosse não a impedia de brilhar, era lutadora, a lua, e era só uma.


“ Se tu podes brilhar assim


Eu também posso


Se tu podes lutar com a tua armadura de prata


Eu também posso


Não te importa se estás só ai no céu


És tu e lutas por não seres mais ninguém


Eu também posso lutar


O manto que vestirei amanhã será prata


E brilharei aos olho dos meus inimigos


Que ficaram cegos como descrentes de mim que o são


A minha verdade e o meu eu permaneceram


Como aquela que te viu


Que te sentiu


Que te admirou


E como tu lutou


E saiu na noite escura


Para voltar a brilhar”


Voltou para os seus aposentos e deixou ali caído o seu manto. Que ficou no chão, tal como sangue perdido quando se trava uma batalha.


A batalha foi ganha, a marca de sangue fica no chão como símbolo. E com o tempo torna-se uma lenda e uma inspiração, para quem contínua a travar batalhas.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Lembra te de mim.

Lembra te de mim



Dos meus olhos da minha boca


Lembra te das minhas palavras


Do meu cheiro da minha pele


Lembra te do meu riso


Do meu sorriso quando olhava para ti


Lembra te de mim


De tudo o que signifiquei


De tudo o que disse


De tudo o que fiz


Lembra te do que sou


Lembra te do que fui


Porque hoje não passo disso mesmo para ti


De palavras que disse


De olhares e sorrisos que dei


De gestos que fiz


De beijos que te dei


Somente uma lembrança


Mas lembra te sempre de mim.

domingo, 6 de novembro de 2011

A verdade.

A vida dá muitas voltas.



A verdade pode fazer a mais culposa pessoa do mundo dormir o mais profundo dos sonos se for leal e verdadeira com os outros.


Que é feito dessa lealdade nos dias de hoje?


Parece uma pergunta retórica, mas todos a fazemos, e todos os dias.


É engraçado como nos dias de hoje as pessoas tornaram se demasiado narcisistas e egocêntricas.


Olhar para o próprio umbigo tornou-se uma meta sem consequências a medir. Usar e ferir sentimentos, (isto para quem sabe o que isso é), não deixa de por em causa os objectivos de seres inconformados numa sociedade que dia após dia se torna primitiva, na medida em que olhar para o vizinho do lado pode se tornar uma ameaça já que é preciso gastar preciosa saliva só para dizer um bom dia, coisa que faz parte das regras básicas da boa educação.


Agora imaginem como estão a funcionar as relações pessoais!!


E é aqui que a porca troce o rabo.


Deixa-se de dar valor ao que ínfimos e escassos seres de outra estirpe que acreditam em valores. Estou a falar de verdade, estou a falar de dizer as coisas como elas são, de lealdade para com os outros.


Deus deu-nos o dom da palavra para que nos pudéssemos expressar, se assim não fosse, seriamos todos animais irracionais a lutar entre por um naco de carne, qual savana.


E a savana a seu devido lugar que estamos a falar de humanos, não de bichos.


Se ninguém me disser que gosta de mim eu não vou saber, se ninguém me disser porque deixou de falar eu não vou nunca saber o porquê, e começa a reinar a dúvida e a incerteza, e isso acaba com qualquer pessoa, corrói como se fosse a ferrugem de um carro, que lenta e silenciosamente acaba com a viatura.


Essa falta de verdade põe em causa a nossa pessoa, a nossa capacidade de compreensão, e deita abaixo qualquer pilar. Começam as insónias, as perdas de capacidade de concentração, a desvalorização porque ficamos sempre a pensar que o erro é nosso, ou que fizemos algo errado.


Mas não funciona assim.


As pessoas apenas começam e acabam as coisas sem dar explicação. Abrem portas a sentimentos profundos, dizem as coisas em momentos de êxtase, e esquecem se que a embriagues pode acabar.


E acaba, e depois o que fazer com o resto, as coisas confundem-se, entram em queda livre, e não sabem como sair dessa montanha que foi crescendo e ganhando proporções.


A montanha tapa lhe a visão, fica turva e quer sair da li o mais rápido possível e pela descida mais rápida. E é ai que se perde no meio de tudo aquilo que defendia e achava que acreditava. Fecha a porta, fecha a janela. Guarda para si mesmo os motivos porque acha que assim é mais fácil para todos, mas não pergunta a esse todos, se é mais fácil.


Põe uma tranca na porta e volta costas.


Mas corrói passado algum tempo, e aflige perceber que tudo se afasta, que se perde a olhos vistos algo que podia ter sido precioso na sua vida. E a verdade ainda esta por detrás das costas, a ganhar volume e peso. Os atingidos sentem-se enganados e revoltados, não entendem, querem uma explicação, a que lhes é devida.


E é quando as costas pesam mais do que nunca, que a razão finalmente abriu uma brecha.


O peso que se carrega nas costas, e das coisas mais aflitivas que um ser humano pode carregar. Não se respira, não se vê com clareza, o arrependimento aflige, o que fazer?


Conta-se a verdade antes que seja tarde de mais…á coisas que ainda se podem salvar, mais que não seja a paz dentro da pessoa.


O mal e finalmente purgado, as palavras mágicas são ditas, podem ate ser as mais duras de ouvir mas são a verdade, são que deveria ter sido dito do principio. A mágoa pela indiferença ainda perdura, mas são feridas que vão sarar.


Um acto egoísta, pode deitar abaixo e mover uma pessoa a pensamentos que não correspondem a realidade, causando dor, um vazio por falta de critério alheio.


Digam o que sentem, temos boca e vocabulário suficiente para nos fazer mos entender, não é vergonha nenhuma admitir que se errou, a partir do momento em que se assume e se justifica, vergonha é deixar coisas a meio, esconder a verdade, e deixar os outros a deriva sem saber por onde remar.


Dormir descansado, é algo tão precioso como um diamante.


Dizer a verdade, saber a verdade, no fundo é como encontrar paz.


Encontrem a vossa sempre que possível, e façam o favor de serem felizes…

Encontrarmo-nos a nós mesmos…

Encontrarmo-nos a nós mesmos…







Encontrar o nosso eu e nossa essência como seres humanos e participantes nesta vida, sempre foi a luta de muitos filósofos poetas e escritores.


Afinal o que é esta procura? O que faz as pessoas largarem coisas, deixarem pessoas para trás e irem em busca daquilo que desconhecem sobre si?


Todos os dias eu me pergunto a mim mesma o que faço aqui, neste planeta, neste mundo, as vezes parece que o fazemos não tem a importância ou valor que merecemos, parece que nada a um certo ponto da nossa vida faz sentido.


Mas do recôndito subconsciente da minha mente a resposta aparece diante dos meus olhos e nas coisas simples do dia a dia.


Eu acordo todas as manhãs, abro os olhos e olho em volta, antes de tomar qualquer decisão espreguiço-me e deixo para trás toda a preguiça que a cama nos suscita, a muito para fazer.


Dizer bom dia á família, tomar um banho e fazer festas aos animais de estimação.


Olho á volta do meu pequeno mundo que é o meu quarto e vejo a mesa onde crio as bijutarias. Pedras, missangas e peças soltas de metal pedem para serem transformadas em objectos que vão adornar orelhas pescoços e bustos de pessoas que apreciam o meu trabalho e destreza de manuseio desses mesmos objectos. Isso faz me feliz e motiva-me.


Uma mensagem para uma amiga, que e respondida, e a cumplicidade que se manifesta libertam sorrisos nos meus lábios. Saber que estão lá faz-me feliz.


Visto uma roupa confortável e saio para a aula de dança, mexo o corpo e aperfeiçoo-o a cada dia uma das mais belas artes do mundo, danço porque gosto, danço porque me faz feliz.


Vou tomar um café com amigas, conversar, sorrir a quem passa e dizer um olá a um conhecido, faz me bem.


Viver o dia a dia, estar com quem gosto, fazer alguém feliz com simples gestos, nem que seja com um sorriso ou bom dia bem disposto, isso sou eu. Ajudar quem precisa, dar uma moeda a um mendigo, isso sou eu.


Ver um cão na rua que me sorri com os olhos e fazer uma festa, isso sou eu.


Amar quem eu tiver de amar, não gostar de quem eu não tiver de gostar, trabalhar o que tiver de trabalhar, dizer o que tiver de dizer, todas estas coisas sou eu.


São gestos meus, são decisões minhas, são criações minhas, tudo isto numa mão aberta, fazem parte de mim, simplesmente fazem parte do que eu sou, identificam-me.


Saber que as pessoas que me rodeiam gostam e querem estar comigo pelo que sou e não por outro motivo, faz me feliz.






Isto sou eu, não e mais ninguém.


Então que preciso encontrar mais se tudo a minha volta me diz quem eu sou?


Cada atitude, cada gesto, diz nos quem nós somos. Estamos naquele lugar e em mais lado nenhum e é assim que deve de ser, para quê procurar o que esta mesmo aqui.






O eu, e mais nada…






Isto que escrevo sou eu, e mais ninguém.


Eu não me procuro, porque estive sempre aqui.






Sejam felizes.

sábado, 5 de novembro de 2011

Ok


Actualizações e mais actualizações…nem sei por onde começar.






Após algum tempo de ausência, por motivos de força “menor”, decidi voltar a dar o meu contributo a este meu estimado blog…apesar de ter sido abandonado apenas por breves meses adoro-o.






A vida de qualquer ser humano esta repleta de historias do dia a dia que dariam para preencher páginas e páginas de qualquer livro,( coisa que intento ainda um dia fazer é escrever um), as minhas peripécias não deixam de ficar atrás qualquer um dos comuns mortais, isto sem desvalorizar a vida, o tormento e as dores de cada um, mas vejamos as minhas dores são as minhas dores, e não posso deixar de senti-las…


Em meses passou muita agua neste rio, posso muito bem por começar pelo trabalho, ai que porra, pensamos sempre que á pessoas que até nos ajudam e arranjam um trabalho fixe, ate começar-mos a carregar caixas de 10kg nas costas enquanto os homens da casa são os favoritos da chefe e nunca fazem nada de errado( ou não fazem nada mesmo), mas mesmo assim esforçamo-nos para manter a paz num ambiente onde a injustiça reina, e a vontade e capricho de um ser e a lei do mais forte e poderoso, contra a vontade de trabalhar e mostrar o que se vale a traves do esforço, ( se calhar sou do sexo errado). Lixam-nos e a transferência e inevitável, antes que uma bomba rebente. E sigo para frente. Outra cidade, outras pessoas…meses depois de me habituar e sentir alguma afinidade, saio daquela casa, e vou para outra, sinto me bem na nova também, mas acaba…estou de novo a percorrer os passos a procura de uma nova oportunidade assim como a maioria das pessoas neste pais, conformo-me que estou desempregada, mas não baixo os braços, afinal e só mais uma batalha a vencer.


No meio disto, encontro pessoas de quem passo a gostar, algumas valem mais a pena do que outras, mas todas têm a sua importância.


As amizades mantêm se e ate aparecem umas novas e com grande potencial. São elas que me mantêm sã, num mundo que parece febril na doença que se aproxima e espalha o terror, tirando algumas capacidades humanas a uns e dando a outros, e lei da vida e da sobrevivência, funciona assim mesmo.


Dei de mim a pessoas que um dia vou achar que so me ajudaram, mas que hoje só me fazem sentir uma mágoa e um peso no coração que gente, dá dó ver, mas a água tudo lava, e as lágrimas que choramos hoje é só a lavagem de alma e limpeza que precisamos. Neste momento estou a lavar a minha da maneira mais profunda, e palavras para quê!!!


Um dia conto isto tudo ao pormenor, hoje só me apeteceu desabafar por alto…


Agora vou viver o hoje e esperar que o amanhã me traga coisas novas, e, que a vida me passe a saber muito melhor…


Vivam e sejam felizes…

Aprendizagem.

A aprendizagem e um processo.



A quem realmente esteja disposto a aprender, e contrarie muitas vezes as suas próprias convicções e detrimento de conhecimento, e, isso muitas vezes leva a batalhas internas, não fácil mudar um modo de vida, ou algo em que acredita, e preciso ter “estômago” para ouvir contradições, para absorver toda uma montanha de informação nova.


E o que fazer com essas informações, cabe a cada um. Elas são como um livro, ou lemos e absorvemos, ou lemos e achamos que não é nada de importante ou relevante, fechamos o livro e arquivamos na prateleira.


Eu prefiro ler e absorver cada palavra, mesmo que ache na altura que não me faz sentido, prefiro que a prateleira continue a ganhar pó, mas porque esta vazia por falta de apatia, a vontade de ir mais alem no conhecimento torna-se mais forte e a luta começa.


Os eu´s, os se´s e os porquês, têm a porta aberta e a busca começa, por respostas…


E como ter a mão cheia de areia e não querer deixar que um grão caia ao chão sem primeiro ter contado a sua historia, é ouvir com atenção cada som cada palavra e deixar que entre no meus ouvidos tudo aquilo que desconheço e passo a saber a ser conhecedora.


Aceito o papel de aluna nesta aprendizagem, como uma criança que entra no seu primeiro ano escolar e esta eufórica para saber como se faz uma conta como se escreve o próprio nome, o seu nome a sua identificação e o fundo o seu próprio eu…mostrar que se sabe escrever o nome, que se sabe quem é e o que quer, e também ensinar, e passar a palavra a quem quer aprender a quem não tem medo de arriscar e recebe sem pudor o que o mundo no seu mais sábio saber, nos oferece a cada dia.


Todos podemos ser conhecedores, de uma realidade que nos afecta de variadas formas e nos tenta despertar, quando o relógio dá a hora do alerta temos de estar atentos, um tic tac , e acordamos para o que esta a nossa volta e para o que alguém trabalhou e lutou para nos deixar como herança. O conhecimento e a herança mais rica que nos poderão deixar algum dia, é luz e vida.


Abracem e guardem tudo o que vos ensinarem, seja de bom ou de mau, no dia e na altura certa vai fazer todo o sentido apesar de haverem lágrimas e verão que nada será em vão…não deixem que a apatia e a inércia tome conta de vos, temos muito para dar e muito para receber, só depende de cada um…escutem, leiam, absorvam e acima de tudo vivam, com lealdade…

Os Pilares na nossa vida;

Existem pilares, pessoas que sustentam quem somos; o que fazemos e a quem nós sabemos que nos dão o devido valor e suporte, quando tudo o resto parece falhar... A vida nem sempre nos sorri, e existem pedras na nossa calçada que se soltam, e tropeçamos.



A queda e aparada por quem caminha ao nosso lado, e, sem medo de cair, mas com forca suficiente para nos ajudar a levantar, estende o braço, e agarra a nossa mão no momento certo…


As estradas, caminhos e calcadas, são escolhas nossas, e não estamos já mais, livres de escorregar, pois são escolhas que ditam o nosso futuro, e também o termino de qualquer etapa, e quase como um jogo, apanhamos os bónus, perdemos algumas vidas, mas a escalada e feita, e o topo da montanha, após lágrimas, suor e sangue, a bandeira e erguida.


Estes pilares, não questionam, não julgam, não põem em causa, e mesmo em silêncio, os gestos são sinceros e verdadeiros. São as palmas das mãos que me afagam, são os olhares cúmplices que dizem” Eu estou aqui” e me fazem sentir que não estou só, são as palavras de conforto e os abraços sem interesse que me aquecem a alma, que quase, quase ficou fria…são pessoas sabias que nos ensinam com as suas rugas perfeitas feitas pela intempérie da vida, que soltam palavras que despertam aquilo que devo de saber, e outras coisas que me havia esquecido…


Aos pilares da minha vida, obrigada…simplesmente obrigada.


Espero que muito mais gente neste mundo encontre pilares assim, pois já são raros, são como pedras preciosas, cheias de carácter, valor e nobreza.


Gostava que o “mundo” deixa-se de olhar para o próprio umbigo, e voltasse a descobrir a verdadeira essência destas três palavras.


Esta noite vamos beber, e brindar a isso…


Adoro-vos miúdas…















quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A viagem parte II

ntei em vão fazer uma chamada, para cúmulo não havia rede. Estava a começar a entrar em pânico, anoitecia e nada de aparecer um carro sequer, o quadro em que me encontrava não estava de todo a meu favor.


Sem solução prática á vista, não tive outro remédio se não o de ficar ali plantada no meio de nenhures na esperança de que alguém aparece-se por ali. Tranquei as portas, recostei o banco do carro para trás e tentei relaxar, coisa que estava a ser difícil dadas as circunstancias…


O tempo foi passando, e sem me aperceber adormeci, devia de ser do cansaço da viagem, pois nem me dei conta do quanto os meus olhos estavam pesados.


Não sei por quanto tempo dormi, sei que quando acordei tinha um senhor a caminhar na direcção do carro com uma lanterna que apontava na minha direcção. Meia encandeada, só deu mesmo para perceber á distancia que estava do carro que era um homem, certifiquei-me de que tinha fechado bem as portas do carro e esperei que se aproxima-se mais. O meu coração palpitava, não sabia onde estava, o carro não andava e o telefone estava morto, aquela figura desconhecida fazia-me pensar em mil e uma desgraças que poderiam me acontecer sem ninguém saber, e quando dessem por minha falta já seria tarde de mais.


Parou por um instante a observar a viatura, movia a lanterna de um lado para o outro como se a estivesse a analisar, depois focou de novo para mim.


Estava sem gota de sangue e sem saber como reagir, afinal de contas não tinha escapatória a única solução era ver o que queria de mim, se vinha para me fazer mal ou ajudar.


De repente acelerou passo em minha direcção, e ai é que entrei em pânico, mas tentei com muito esforço manter a calma, e deixei que se aproxima-se se me mexer um milímetro.


Finalmente quando chegou perto do vidro do lado do condutor pude ver a cara da minha salvação da minha desgraça.


Felizmente era o simpático senhor da estação de serviço, respirei de alivio e abri o vidro.


- então menina que faz aqui parada a estas horas da noite, ainda por cima sozinha? Não me diga que o seu carro avariou?


Olhei para ele e não pude evitar sorrir, a voz denotava a mesma simpatia de há horas atrás e não me pareceu nada ameaçador.


- Não me diga nada, o meu bolinhas deixou-me ficar mal desta vês, estou aqui há horas sem telefone nem nada.


- Pois aqui nesta zona não há rede. Hora vamos ver o que podemos fazer por si. Espere só um pouco que estou com a minha mulher ali no carro e vou chama-la, ela faz-lhe companhia enquanto eu vejo o que este menino tem pode ser?


Quando falou na mulher é que reparei que mais á frente estava um carro parado. Como estava encadeada com o foco de luz não me apercebi que havia um carro.


Foi até á viatura, e quando voltou trouxe a mulher, uma senhora de estatura baixa, magra mas com um ar tão amistoso como o meu salvador, levou-me até ao carro deles e ofereceu-me alguma comida que trazia consigo. Conversámos enquanto ele abria o capo do carro e analisava o seu estado. Falou-me de si do marido e de um sobrinho que vinha da cidade dai a um dia para passar o fim de semana cm eles, era como um filho que não tinham nenhum. Viviam numa vila perto do local onde me tinham encontrado, iam para casa quando repararam no carro parado e resolveram ver se era alguém que precisava de ajuda. Não era hábito fazerem tal coisa nos dias de hoje com tanta violência, mas como o marido tinha falado numa menina que estava a viajar sozinha e achou estranho esse facto, teve medo que talvez fosse você, e por isso pararam.


-E foi em boa hora não menina? Se não morria enregelado com o frio que se faz sentir esta noite.


- Muito boa hora mesmo, muito obrigada. Não sei onde estava com a cabeça quando me meti nesta aventura.


- Você é jovem, tem mais é que se aventurar, mas sempre com cautela, e veja lá se para a próxima com um carro mais novo para não ficar apeada.


E nisto soltou uma gargalhada e afagou-me as mãos em gesto de cumplicidade.


Enquanto continuávamos a conversar, o senhor António, era assim que se chamava, voltou.


Entrou dentro do carro limpo as mãos com um pano que tinha no carro e olhou para mim.


- Menina o seu carro não vai poder sair daqui hoje, vai ter de ir para uma oficina e só pode ser amanhã.


- A sério? Então como vou fazer meu Deus?


Depois de algum silencio a D:. Fernanda achou uma solução.


- Ora só não existe cura para a morte, venha connosco, o meu sobrinho só chega amanhã ou depois, por isso pode pernoitar no quarto dele. Que lhe parece?


- não quero incomodar, mas também não estou a ver outra solução. Como é que posso agradecer esta ajuda, se não fossem vocês a aparecer agora estava perdida de todo.


- Ora essa não custa nada ajudar, vaia lá buscar as suas coisas e venha connosco. Comemos uma refeição decente e depois dormimos o sono dos justos.


Fui buscar a mala com a pouca roupa que tinha, tranquei o carro e voltei para junto deles.


Não acreditava no que me estava a acontecer, foi milagre aquele casal passar por ali. Não sei se era acertado aceitar a cama que me ofereciam, mas não tinha outra saída, pareciam gente humilde e não quis desprezar a ajuda que me estavam a dar. A viagem demorou mais ou menos meia hora. A aldeia era pequena, com casas térreas daquelas típicas de campo, infelizmente naquele breu era a única coisa que conseguia ver. Paramos em frente á terceira casa, e entrámos.


Fiquei maravilhada. Uma casa simples mas muito aconchegante, a decoração era básica mas muito cuidada, rústica típica do interior. A sala tinha uma lareira ao fundo onde haviam varias cadeiras á volta, parecia o local de convívio familiar em noites de inverno, ao lado era a cozinha bem ao estilo campestre com direito a fogão a lenha e pia de pedra. Depois havia uma porta que dava para um corredor com várias portas. A dona Fernanda fez questão de me mostrar o resto da casa. As duas primeiras portas da esquerda eram uma casa de banho ampla e um quarto com porta de acesso directo a ela, era o quarto do casal, onde existiam fotos de casamento e de alguns momentos das suas vidas com pessoas que desconhecia, apenas salientou uma foto do sobrinho com dez anos.


Tinha um ar reguila, cheio de sardas e cabelo desgrenhado, apenas sobressaíam os olhos grande e verde que sob os caracóis rebeldes quase lhe davam um ar de anjo mas que o sorriso maroto fazia desacreditar. Não sei porque mas fez me sorrir.


Depois do lado direito a despensa, logo a seguir a casa de banho das visitas e o quarto onde ia ficar. Era um quarto simples com uma cama de casal, mesa de cabeceira com um pequeno candeeiro e um guarda fatos mesmo em frente, do outro lado havia uma janela alta que dava acesso a uma pequena varanda térrea e tinha uma espreguiçadeira com uma mesa de apoio. Olhei para o céu naquele momento, estava frio e o ar estava tão limpo que conseguia ver todas as estrelas do céu, e, pensei que em noites de verão devia de ser muito agradável ficar ali no olhar aquele céu deslumbrante e perder-se no tempo.


Depois do reconhecimento, dirigimo-nos para a cozinha, onde foi preparada uma refeição leve, baseada em leite, pão caseiro e manteiga, seguido de um delicioso arroz doce.


Conversamos mais um bocado, o Sr. António disse-me que logo pela manhã ia falar com o mecânico para irem ver o carro, e só depois saberiam quando estaria pronto.


- durma descansada esta noite, o pior já passou menina. Amanhã tudo se resolverá.


Agradeci a comida e amabilidade, e retirei-me.


Entrei no quarto e olhei mais uma vez em volta, era mesmo uma decoração simples, numa das paredes apenas havia um retrato do peque diabrete igual ao do quarto da D. Fernanda mas numa escala maior.


- Aqui estás tu pequeno malandro.


Murmurei para mim mesma, e ao mesmo tempo perguntei-me a mim mesma porque cada vez que olhava para ele me dava vontade de sorrir. Devia de ser dos caracóis e das sardas.


Preparei-me para dormir o sono dos justos, deixei as portas da janela aberta, quis continuar a contemplar aquela noite até o sono vir, coisa que aconteceu logo de seguida.


Ia a meio do meu descanso quando fui acordada pelo barulho de uma porta a abrir,. Quando abri os olhos não quis acreditar no que via. No lado de fora da janela estava a sombra de uma pessoa a meter qualquer coisa na ranhura, fosse lá o que fosse surtiu efeito porque a fechadura rodou e a janela abriu-se. Fiquei muito quieta na cama com os olhos arregalados a ver o assaltante a entrar no quarto surrateiro. Mas, para mal dos seu pecados assim que entrou tropeçou na mala que eu tinha deixado no chão e caiu em cima da cama. Dei um grito que deve de se ter ouvido na aldeia mais próxima que seria de uns cem quilómetros, o intruso também gritou ao ver que não estava a passar despercebido como era a sua intenção. Antes que acendesse a luz do candeeiro o Sr. António e a mulher entraram de rompante no quarto e acenderam a luz.


Depararam-se comigo encostada á cabeceira da cama agarrada ao cobertor e um rapaz ao pé da cama com a mão na cabeça a olhar para mim com uns grandes olhos verdes.


- Á o que aconteceu? Disse a dona Fernanda.


Então caiu a ficha, aquele rapaz que não parava de coçar a cabeça era o sobrinho dela, eram os mesmo olhos e os mesmos caracóis da foto, só as sardas tinham desaparecido.


- Então tia arranjou uma substituta foi?


- Mas ó meu filho só eras para chegar amanhã!


- Pois era mas decidi vir hoje depois do trabalho, e como cheguei tarde nãos queria acordar. Mas aqui a sirene fez o favor de me anunciar.


Aquele comentário era despropositado, e não foi do meu agrado.


- O meu nome é Graça, e se não tivesse entrado sem avisar não teria me assustado.


Devo de ter feito beicinho, porque ele ficou a olhar para mim e deu um sorriso no canto da boca.


- desculpe não a quis ofender, mas é costume eu entrar pela janela quando chego tarde. Filipe, o meu nome é Filipe. Agora tia já que estamos todos acordados, explique-me o que está esta rapariga aqui a fazer no meu quarto.


- á meu filho isso é uma longa historia e estamos todos muito cansados inclusive tu. Não te importas de dormir só hoje na sala a lareira ficou acesa.


Olhou para mim com um ar um pouco contrariado mas depois anuiu.


- Está bem, mas amanhã quero saber o que se passa está bem.


- Tudo o que quiseres meu amor, agora vou te buscar cobertores.


Saíram do quarto e dirigiram-se para a sala, depois ouvi as portas dos quartos a fecharem-se. Ainda fiquei um pouco desperta mas acabei por adormecer até de manhã.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A viagem

Ficar em casa a olhar para o tecto do quarto não era nada que me apetece-se, semanas inteiras a trabalhar e ir para casa sem sair e ver gente estava a dar comigo em doida.
Já era demasiado tempo longe das pessoas e das coisas que realmente gostava de fazer. Para desanuviar o ar pesado que carregava no rosto e que já era notório a quem me rodeava, lavei a cara de preocupações e obrigações, e maquilhei-me para mudar, vesti uma roupa casual e sai porta fora com as chaves do carro na mão e ainda sem saber para onde ir. Sentei-me no banco do carro e liguei o motor.
Quando comecei a conduzir só conseguia pensar numa coisa, vou andar, andar, andar, deixar as horas passar sem me preocupar se amanhã tenho de ir trabalhar, queria relaxar, ver outros ambientes que não os habituais, ver pessoas, nem que fosse só para observa-las…
Arranquei na minha demanda, á procura não sabia do quê.
O barulho do motor do carro ia desaparecendo á medida que os meus ouvidos se habituavam ao som, e ai os pensamentos começaram a jorrar na minha cabeça, coisas de nada e coisas mais importantes tomavam de assalto a minha estabilidade e assombravam a minha vontade de continuar a galgar estrada, mas não parei, e deixei que fluíssem ate pararem de me torturar e desaparecessem por completo da minha mente, agora nada me passa pela cabeça, só o anseio pelo asfalto.
Chovia, não muito mas o suficiente para acordar alguma nostalgia, lembrei-me de tantos momentos passados em dias de chuva. Em casa ou na escola, as brincadeiras de crianças que não tinham medo de ficar doentes e saiam para brincar á chuva e fazer possas de lama com as botas de borracha. As gotas grandes e frias não tiravam a vontade de correr pela rua que era maior ainda, fez-me sorrir, olhei em volta para ver onde andava e vi terras cobertas de ervas verdes e viçosas com aquela água a cair sobre elas, era como vida nova, tudo lavado e limpo, abri um pouco o vidro, veio o cheiro doce e fresco da terra molhada.
Poucos carros passavam por mim na estrada, ao que eu agradecia pois não me apetecia nada ter cortes naquela visão do mundo, continuei a andar.
Viajar de carro sempre foi uma das minhas grandes paixões, adorava conduzir durante horas a fio e só para jantar num restaurante local, dormir e conhecer o sítio logo pela manhã do dia seguinte, e partir depois do almoço, na minha cabeça havia sempre muito para ver, e faze-lo de carro era óptimo. Não imaginam a quantidade de informação fotográfica que guardamos no nosso cérebro. Parece que tudo nos chama a atenção e como estamos limitados de tempo, que remos reter tudo na nossa memória fotográfica, e, a verdade é que ficam mesmo…guardo muitas na minha.
Estava a precisar de mais momentos desses.
Não á quanto tempo estava a conduzir mas deve de ter sido durante horas. Tinha saído de casa sem comer, e o meu estômago estava a pedir combustível, o carro também.
Parei mais uns quilómetros a frente numa estação de serviço, enchi o deposito e depois estacionei no parque para comer qualquer coisa mesmo por ali.
Entrei dentro do que anteriormente deveria ter sido uma zona de serviço bem movimentada, era uma sala de refeições ampla toda apetrechada com mesas, buffet e maquinas de self-service, mas aparentava um pouco de abandono e falta de uso, estava frio lá dentro. Fui até ao balcão onde um senhor com um ar muito simpático e rosado me veio perguntar o que desejava.
- Por acaso servem refeições? – Perguntei.
- Sim, mas estamos u pouco limitados, como já reparou o movimento já não é o que era e só fazemos um prato do dia e sopa, hoje temos ………
- pode ser preciso de comer bem tenho uma viagem longa para fazer.
- á sim para onde vai?
Confesso que a pergunta dele pareceu-me impertinente, não o conhecia de lado nenhum, mas tinha um ar tão simpático que não dei importância á sua curiosidade. Por outro lado nem lhe sabia responder, nem eu sabia para onde ia.
- vou conhecer uns lugares aqui perto ouvi dizer que são bonitos.
- á sim por estas bandas tem muito para ver mesmo, faz muito bem menina, pouca gente se dá ao trabalho de andar de carro por estas estradas e conhecer as coisas bonitas que temos por cá, só pensam aviões, estrangeiro, quando existe um pais lindo para correr mesmo que se ande sozinho estas paisagens não deixam sentir só.
Sorriu e saiu para me ir buscar a refeição.
Deixou-me sozinha a pensar no que me tinha dito.
Durante aquelas horas todas, entre a condução, a paisagem e algumas recordações ainda não me tinha sentido só. Estranho, porque tinha saído de casa naquela manhã precisamente por causa disso. Eu sentia-me só e queria sair, e até aquele momento não estava de todo a sentir-me só, tinha muito para me entreter, para ocupar a cabeça, tudo á minha volta me dizia alguma coisa de certa forma.
Comi a minha refeição e sentei-me ao volante de novo, decidi que não ia voltar para casa naquele dia, ia procurar uma pensão ou coisa do género para dormir e voltava no dia seguinte para casa.
Andei mais uns quilómetros, estava a ouvir musica no rádio e a cantarolar quando me apercebi que o carro estava a fazer um barulho estranho. Baixei o som do rádio, e as minhas suspeitas confirmaram-se, havia um som qualquer que me perturbou a calma que estava a sentir, não passou muito mais tempo até o carro começar a gaguejar, tive de encostar á beira da estrada, não podia continuar assim sem ver o que se passava.
Parei e sai do carro ainda sem acreditar no que me estava a acontecer. Olhei em volta, estava no meio de nenhures e nem sinal de um carro á vista, para além disso chovia mais agora. Só me apeteceu gritar, mas ao contrário disso soltei uma gargalhada e abri os braços, brindei a chuva e senti as gotas geladas a baterem-me nas pestanas, sabia-me bem brindar a chuva.
Abri os olhos respirei fundo e entrei para dentro do carro, pensei em ficar uns momentos com ele parado na esperença que tivesse sido só uma pequena reclamação, e que o coitado fiat me levaria depois a bom porto para descansar-mos e o levaria logo pela manha a uma oficina.
Passado algum tempo de estar ali sentada á espera que meu carro descansasse um pouco comecei a sentir frio, a brincadeira da chuva parecia que ia sair cara, antes que gela-se mais, agarrei um casaco que tinha no banco de trás do carro tirei a blusa molhada e vesti-o. Esperava assim que não me constipasse ou algo do género. O que é certo é que estava muito frio e começava a sentir, decidi tentar dar á chave a ver se se operava algum milagre, até porque estava parada á mais de meia hora e não tinha visto um único carro sequer a passar por ali.
Rodei a chave mas não consegui mais que um click. Tentei de novo o mesmo som. Após vários clike`s, o quadro não me parecia o melhor, e sair sozinha para andar á deriva naquele momento pareceu-me a coisa mais estúpida que tinha feito na minha vida. Onde estava eu com a cabeça para pensar que  nada de mal poderia me acontece ao sair de casa, meter-me num carro a pedir reforma e andar centenas de quilómetros num dia só, estúpida mil vezes.